"O leitor moderno, parece dizer Nietzsche, é um homem do rebanho: suas buscas carecem de audácia visto que só se propõe objetivos pequenos, limitados e conhecidos de antemão; seus métodos são caminhos seguros e bem delimitados, e não conhece o infinito do mar onde nenhum caminho está traçado; em lugar da astúcia, suas qualidades são a constância e a boa vontade; não conhece a embriaguez e se conforma com o trabalho forçado e com os prazeres sensatos; ignora os enigmas porque só sabe fazer a si perguntas às quais possa antecipar a resposta; não se deixa seduzir nem se desviar de seu caminho; foge dos labirintos porque lhe agradam os itinerários retos e, em todo caso, se alguma vez cai em um labirinto, não explora mas, sim, busca uma saída; segue os fios que outros lhe estendem e se ata a eles; só aceita o caminho seguro da dedução e a olhada superficial do explícito; é indolente e pouco exigente consigo mesmo; tem um certo espírito gregário e se sente seguro e bem vestido por pertencer a escolas, a tendências e a grupos; só busca o útil e não se arrisca; move-se sempre nos limites do convencional e do permitido; só sabe ouvir o que já lhe foi dito, ver o que já foi visto e pensar o que já se pensou. O leitor moderno é pequeno, metódico, gregário, pragmático e trabalhador; só é capaz de seguir os hábitos estabelecidos e as regras comuns; só lê o que já foi dito."
Trecho extraído do livro Nietzsche e a Educação de Jorge Larrosa, página 38, em:
LARROSA, Jorge. Nietzsche e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
Fica o convite: leiamos nós o que ainda não foi escrito!
Nenhum comentário:
Postar um comentário