sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Seminário Internacional Educação, Arte e Política

O Seminário Internacional Educação, Arte e Política, integrou as programações da 29° Bienal de São Paulo. Realizado nos dias 20 e 21 de agosto de 2010, no Parque Ibirapuera, o seminário trouxe os mais diversos filósofos, artistas, educadores, críticos, pesquisadores, etc., para debater as áreas que estavam em foco no seminário.

Apresentação da 29° Bienal de São Paulo:A 29° Bienal de São Paulo está ancorada na idéia de que é impossível separar a arte da política. Esta impossibilidade se expressa no fato, de que a arte por meio que lhes são próprios, é capaz de interromper as coordenadas sensoriais com que entendemos e habitamos o mundo, inserindo nele temas e atitudes que ali não cabiam, tornando assim diferente e mais largo.

Título: "Há sempre um copo de mar para um homem navegar", Jorge de Lima (A invenção de Orfeu, 1952).

Afirmar que a dimensão utópica da arte está contida nela mesma e que não no que está fora ou além dela. É neste copo de mar ou neste infinito próximo que os artistas teimam em produzir, que de fato, está à potência de seguir a diante a despeito de tudo mais. A potência de seguir a diante, como diz Jorge de Lima, mesmo sem naus, sem rumos, mesmo sem vagas e areias.
A 29° Bienal de São Paulo pretende assim ser simultaneamente uma celebração do fazer artístico e uma afirmação da sua responsabilidade perante a vida, onde a educação dialógica está presente o tempo todo, momento de desconcerto dos sentidos e ao mesmo de geração do conhecimento.

A seguir, alguns dos principais pontos e falas do Seminário:

Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias (curadores da mostra)
Relação arte e política – binômio sob o signo da poesia.
Questão: trazer a arte para o centro do debate, pois ela é fundamental para que a nossa sociedade possa se pensar; possa fomentar a diferença; possa se sensibilizar e esclarecer aspectos que hoje estão nublados e eclipsados. Só a arte teria condições de fazer isso!
A Bienal de São Paulo não é propriamente uma exposição, ela é fundamentalmente uma instituição educativa e que para isso faz exposições.
Sem o projeto educativo a Bienal de São Paulo não faria sentido, seria apenas uma grande exposição, mas teria que ser mais do que isso porque é fundamental que se aproxime arte contemporânea de um público cada vez maior, especialmente do público estudantil.
É impossível que nos dias de hoje a arte continue ocupando um espaço lateral dentro das nossas preocupações. Dentro de uma sociedade técnica, como a nossa, pragmática, como a nossa, fria e desprovida de grandes perspectivas, e que coloca o sonho, sublima o sonho, deixa o sonho de lado. É preciso então que a arte venha para o centro, porque só ela é capaz de dar outra dimensão e fazer com que, especialmente as crianças, imaginem, dêem asas a fantasia. E esse lugar que como diz Dante Alighieri: “chove dentro”. É preciso fazer fertilizar a alta fantasia e isso só através da arte.
Assumir a Bienal como um centro produtor de um insumo fundamental para as nossas vidas, qual seja o insumo estético. Isso as nossas escolas dão pouco, quando dão.
O que nós precisamos é da exceção, é da excepcionalidade.
“Cultura é norma, arte é exceção”

Paradoxo: “A arte de certa forma nos faz desaprender”, desaprender as convenções que nos moldam e que de algum modo nos limitam o nosso entendimento do mundo. E nesse levar a desaprender estas convenções/normas, é aí que a arte paradoxalmente nos educa.
Aprender um mundo que não é esse é outro, um mundo que pouco sabemos, mas um mundo que existe como possibilidade, como algo que é da ordem da invenção, como algo que não é sabido mas é algo que possa ser inventado, algo que possa ser construído. A arte ao fazer desaprender estas convenções ela nos abre para outra coisa que não está dada, nos abre para o sonho, nos abre para o campo da imaginação.

Jorge Larrosa (pesquisador e professor de Filosofia da Educação na Universidade de Barcelona)
Mediadores/Educadores: se dedicam a regular os fluxos das instituições educativas e as instituições artísticas. Dedicam-se em garantir a fé naquilo que permite os fluxos, ou seja, a fé, a crença no valor social, cultural, político ou formativo da arte. Que as obras de arte são acessíveis a todos e que possam contribuir para a formação das pessoas. Os mediadores são essenciais na hora de produzir uma certa inteligibilidade das obras de arte e dos espectadores. Os mediadores estão a serviço da relação entre as obras e o público. Os mediadores são especialistas de acesso as obras, especialistas nas formas de diálogos, interação ou experimentação com as obras.
Para os mediadores as obras de arte têm a ver com a sua potência, ou seja, com a sua força atuante, sua força vital ou com seus efeitos que produzem na vida dos espectadores.
Os mediadores devem saber duas coisas: primeiro devem saber algo sobre arte, sobre essas coisas que chamamos obras de arte; e segundo devem saber algo sobre os espectadores, que os converteram em alunos, receptores, dialogadores, interactuadores. Devem saber da obra de arte, desde o ponto de vista de sua atividade e de sua força; e devem saber também acerca dos espectadores, desde o ponto de vista de sua receptividade.
Idealmente a obra deve transmitir algo, deve comunicar algo, deve produzir algo efeito; e os espectadores devem ser afetados de alguma maneira. E os mediadores serão aqueles que se encaixam em assegurar a continuidade entre a atividade da obra e a receptividade dos espectadores, sendo que essa receptividade agora só poderá ser pensada como atividade. Para nós os espectadores só recebem ou experimentam os efeitos da obra de arte no momento em que se comporta ativamente ante elas, ou frente elas ou com elas.

3 pontos principais da fala do Jorge Larrosa, por Mila Chiovatto (coordenadora do núcleo de ação educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo)
- Arte como inutilidade e coisa valiosa;
- Sujeito fruidor, visitante, ser que experimenta a arte como o mesmo caráter do artista; produtivo como o artista e com o seu direito de pensar, falar e sentir assim como o artista;
- Mediador como aquele que propicia o encontro dessas potências: da potência da arte e da potência do sujeito.







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